“O trabalho de um atelier de arquitetura é muito específico, muitas vezes coletivo e assente em modelos tradicionalmente presenciais”, explica Diogo Aguiar. O arquiteto portuense destaca as situações recorrentes em que há “vários membros da equipa a riscar em simultâneo na mesma folha de desenho ou à volta de uma maquete”. Com a equipa de 8 pessoas cada vez mais a trabalhar remotamente nos últimos anos - seja pelas circunstâncias de saúde pública ou pela distância face a um cliente ou projeto - qualquer dificuldade de contacto pode penalizar os processos criativos, algo que para o fundador do Diogo Aguiar Studio deixa de acontecer com o 5G.´
A utilização da rede 5G em setores como a arquitetura vai permitir que o trabalho remoto se torne definitivamente “uma alternativa real ou até mais eficaz ao trabalho presencial”, antecipa Diogo Aguiar. E esse trabalho colaborativo, com várias cabeças e mãos a acrescentarem ideias num projeto, pode ser feito em simultâneo também à distância, com novas tecnologias imersivas que juntam ao desenho, à planta e à maquete a realidade aumentada e a conexão de novos equipamentos à internet, graças ao 5G. Mesmo que todos os intervenientes estejam em locais distintos, há “uma partilha sobretudo mais interativa”, lembra o arquiteto do 39 anos, uma “aproximação mais real das pessoas graças ao 5G”.
Modelos digitais com importância redobrada na arquitetura
Diogo Aguiar acredita que as maiores alterações motivadas pela quinta geração móvel, que causam um impacto mais abrangente e transversal, estão “no domínio profissional, onde o 5G traz enormes mais valias”. No caso da arquitetura, o arquiteto explica que o digital “começou por mimetizar, copiar possibilidades de desenho sobre uma folha”, e neste momento já estamos numa “fase de quase superação, em que os modelos digitais se tornaram absolutamente essenciais”. No fundo, mais do que uma cópia digital, um projeto de arquitetura tem muito mais camadas de informação, maior detalhe, graças a inovações trazidas pelo 5G.
Para o arquiteto Diogo Aguiar, a rede 5G permite que a tecnologia “se apresente como uma ponte e não como um muro”, traz fluidez e detalhe aos processos de trabalho.
Daí que velocidade, latência ou resiliência - precisamente características em que a rede 5G se destaca -, sejam fundamentais para a arquitetura. A qualidade de imagem, “se é 4K ou 8K, obviamente faz toda a diferença” quando se está a trabalhar num projeto de arquitetura recorrendo a fotografia e vídeo, refere Diogo Aguiar. E destaca também a melhoria no tempo de espera dos uploads e downloads de ficheiros, graças ao 5G. Segundo o arquiteto, podemos até acabar por deixar de falar de rapidez nas transferências: “Se esse tempo de espera desaparecer, se calhar estes conceitos deixam de ser percetíveis”.
Apresentações e maquetes virtuais trazem novas camadas de informação
Diogo Aguiar encontra já grandes vantagens do 5G na arquitetura, e espera conseguir uma simbiose perfeita na tecnologia. O arquiteto - que abriu o seu atelier no Porto em 2016 -, colaborou com o conhecido gabinete holandês UNStudio em 2007, e desde os tempos de Amesterdão que trabalha em modelação tridimensional, em computador. A técnica obriga a um trabalho em grupo presencial, ou então as sugestões e intervenções no projeto partilhado têm de ser feitas por uma pessoa de cada vez. “As propostas vão sendo desenvolvidas em paralelo, mas não em simultâneo”, explica, “o que me interessa é a simultaneidade desse desenvolvimento colaborativo e com o 5G claramente será algo possível”. Diogo Aguiar ressalva que “não estamos a transformar-nos em cyborgs, mas há um conjunto de tecnologias digitais que já permitem essa fluidez e essa continuidade”.
As apresentações de projetos podem passar “para um universo digital, assentes em desenhos e modelos tridimensionais, sustentadas pela tecnologia HD ou até pela realidade virtual”, acredita o arquiteto. Prevê “uma experiência muito mais imersiva, mas também mais informada, que cruza aspetos formais, cromáticos e funcionais, ou até mesmo financeiros, que interessam à arquitetura” e a quem a faz.
“É uma questão de tempo até a realidade virtual fazer parte do quotidiano dos escritórios de arquitetura”, antecipa Diogo Aguiar.
Apesar do ‘bichinho’ do lápis e da folha, fruto da formação “numa das escolas [Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto] que mais valoriza o desenho à mão, a caneta como extensão do cérebro e a ideia de que o pensamento flui através da mão”, Diogo Aguiar acredita que as novas tecnologias de realidade aumentada e realidade virtual permitem “uma experiência que é muito mais imersiva, mas também muito mais informada, algo que passa do digital ao concreto”.
Ateliers mais abertos ao mundo com 5G
Diogo Aguiar tem no Porto o seu espaço de eleição, após ter trabalhado em Amesterdão e colaborado com vários ateliers de Lisboa. Os seus projetos de arquitetura - mas também instalações artísticas - estão espalhados por vários pontos do país, e integrou também a representação portuguesa na Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2014 e 2018. É precisamente a componente internacional que o arquiteto acredita poder ser reforçada nesta área com a tecnologia 5G: “Vem permitir que isso aconteça de Portugal para o mundo, que um pequeno atelier do Porto possa estar a trabalhar em todo o mundo”.
A tecnologia abre “um novo espetro de amplificação de universos, para que passemos de clientes que são sobretudo locais, para clientes internacionais”.
Para Diogo Aguiar, “se essa porta já estava aberta”, até pela enorme projeção da arquitetura portuguesa, “agora há a possibilidade de todos a passarmos cada vez mais”. Isso graças à capacidade de trabalhar à distância com todas as condições técnicas e de poder contactar através de novas formas, em qualquer lugar, com toda a equipa, clientes, construtores, equipas de engenharia. A arquitetura é uma área que quebra barreiras, que ajuda a desenhar os espaços onde vamos viver, trabalhar ou circular no futuro, numa procura constante do equilíbrio entre tradição e inovação. O 5G ajuda a arquitetura a garantir essa ponte, a passar novas fronteiras.