Há vários anos que o GeSI - Global Enabling Sustainability Initiative, estuda o impacto da tecnologia nas empresas e na sociedade em geral. E as conclusões - mais recentemente relacionadas com o 5G - têm sido extremamente positivas. “A implementação tecnológica e o desenvolvimento tecnológico estão fortemente ligados à melhoria das condições de vida dos cidadãos. Os países que investem mais na tecnologia, naturalmente também estão mais à frente”, explica em entrevista Luís Neves, CEO da associação empresarial com sede em Bruxelas.
Para o responsável, "o 5G é a tecnologia do futuro para assegurar a sustentabilidade”. Acredita que o aumento da eficiência relacionado com a nova rede vai ser exponencial, apesar das críticas que apontam para maiores consumos de energia. “No último estudo que fizemos, Delivering a SMARTer 2030, a pegada de carbono do sector mantém-se nos 2% globais, mas aquilo a que chamamos o enabling impact, o benefício, é 10 vezes mais do que calculámos em 2007. Estamos a falar de 20% de potencial de redução das emissões de carbono através das tecnologias. E o valor económico são 11 biliões de dólares por ano”.
Estamos a falar de 20% de potencial de redução das emissões de carbono através das tecnologias. E o valor económico são 11 biliões de dólares por ano”.
Tecnologia 5G como game changer do desenvolvimento
O CEO do GeSI entende que as vantagens do 5G permitem um desenvolvimento mais sustentável em três vertentes: “Uma é a latência muito mais baixa; a segunda é a capacidade de transmissão de dados, que vai ser muito maior, e a terceira é a rapidez da comunicação”. Estes três critérios “são o grande game changer do 5G, porque isto vai permitir conectar cidades, controlar as colheitas na agricultura, facilitar a implementação de soluções na saúde, na educação, no tráfego, na logística. Todas estas indústrias vão beneficiar da implementação do 5G”. Essas inovações vão depois trazer negócio, gerar benefícios e criar um mundo mais sustentável”.
Descubra como o 5G é a ‘rede das redes’
Nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, “a tecnologia vai permitir um impacto enorme em 22% dos indicadores”, avança Luís Neves
No estudo SMARTer 2030, o GeSI aprofunda a relação entre a tecnologia e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). “Olhámos para os 17 ODS e para as 169 metas, e tentámos perceber qual é a correlação entre a tecnologia e todos estes indicadores”, refere Luís Neves, “e a conclusão foi fantástica, a tecnologia vai permitir um impacto enorme em 22% dos indicadores, e vai reverter o impacto negativo de 23% deles”. O CEO do GeSI acredita mesmo que os resultados podem ser superiores, daí a associação ter criado um movimento para os reforçar, através de “indicadores que vão permitir às empresas avançar neste objetivo”.
Segundo Luís Neves, é importante que as empresas “percebam o que é que a sociedade pensa para melhor gerirem o seu negócio. Se falarmos em sustentabilidade, é muito importante que as empresas compreendam quais são os maiores desafios que estão pela frente. É neste papel que o GeSI se coloca, apoiar os seus membros, as empresas, a facilitar esse diálogo, ajudá-las, através da sustentabilidade, a melhorar o negócio”.
5G Portugal: Apanhar o comboio da liderança europeia
Um dos estudos do GeSI, o Digital Access Index, avalia a qualidade de vida dos países com base no acesso à tecnologia. “Os países que investem mais na tecnologia, naturalmente também estão mais à frente”, indica Luís Neves, apontando o Luxemburgo e a Suécia como os melhores exemplos. E Portugal? “Está em número 22 dos mais desenvolvidos, o que, não sendo mau, também não é muito bom. Daí o meu apelo no investimento na tecnologia, do ponto de vista político. É aquilo que vai permitir a Portugal avançar, desenvolver-se e equiparar-se aos países que estão mais desenvolvidos”.
Para o CEO do GeSI, que vive fora do país há 25 anos, “Portugal, do ponto de vista da digitalização, esteve muito bem e tem tido um desenvolvimento bastante positivo”. No entanto, Luís Neves defende que, “olhando para os desenvolvimentos mais recentes no continente europeu, era muito importante que Portugal não deixasse passar o comboio do 5G”. Para isso tem de haver “um ambiente regulador que facilite essa implementação e esses investimentos. As empresas têm de ter segurança nos investimentos, porque elas têm responsabilidades sociais e no que respeita aos seus acionistas, não podem dar tiros no escuro. É muito importante o poder político perceber que é necessário estabilidade”.
Para Luís Neves, “era muito importante que Portugal não deixasse passar o comboio do 5G”.
Luís Neves lamenta, no entanto, a indefinição que ainda se vive em Portugal com o lançamento da conectividade 5G: “Temos em Portugal operadores suficientes para garantir uma boa implementação do 5G. Os Estados Unidos, que têm 350 milhões de habitantes, tinham até há pouco tempo quatro grandes operadores: ATT, Verizon, Sprint e T-Mobile. A T-Mobile comprou a Sprint e passaram de 4 para 3. Nós temos 3 operadores em Portugal para 10 milhões de habitantes, precisamos de mais? Os três operadores não têm competências e capacidades para assegurar uma implementação do 5G? Eu acho que têm!”
Já as empresas portuguesas da área merecem rasgados elogios ao CEO do GeSI. “Eu acho que as empresas estão preparadas para a implementação do 5G. Em Portugal há grandes engenheiros, grandes técnicos, grande know-how. Comparamo-nos a qualquer outro mercado europeu ou mundial”, afirma Luís Neves, destacando que “há também ambição de criar um Portugal mais digital, mais moderno”. Isso deixa-o ainda mais surpreendido com o atraso que existe, pelo que avisa: “Vamos pagar caro, em Portugal, este atraso. Porque a tecnologia vai entrar em tudo, este mundo vai viver à base da tecnologia, isto é uma coisa que não tem retrocesso e adiar só vai causar problemas”.
Em Portugal há grandes engenheiros, grandes técnicos, grande know-how. Comparamo-nos a qualquer outro mercado europeu ou mundial”.
O ‘comboio’ do 5G que está em marcha tem também um peso geoestratégico global e Portugal deve estar presente, enquanto parte da Europa. Para Luís Neves, há o bloco dos Estados Unidos, o “money machine”, e do outro lado a Ásia, “onde vemos outro tipo de problemas, mas também uma explosão de tecnologia”, pelo que “o espaço europeu é a terceira via, à volta da tecnologia e da sustentabilidade”. Em Portugal e na Europa, “se conseguirmos isso, vamos ser líderes mundiais”
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