O 5G chegou e há tecnologias em evolução constante graças às características de velocidade e latência da rede móvel. Colocar uns óculos e adicionar ao mundo real hologramas, botões de interação e personagens capazes de interagir com o utilizador é uma inovação já possível. Em 2022, já será possível viver uma experiência destas em grupo. Para Nuno Folhadela, fundador e CEO da ONTOP Studios, empresa portuguesa de gaming, em 2022 as pessoas vão começar a conhecer melhor todo o potencial da realidade aumentada: “o virtual vai tornar-se mais real”.
A ONTOP é uma das empresas mais conceituadas do mundo no desenvolvimento de videojogos e entretenimento especificamente para realidade aumentada. Recentemente, o trabalho da equipa de Nuno Folhadela pôde ser experimentado num videojogo que recriou o filme Ghostbusters Afterlife, de 2021.
Com a realidade aumentada, o contacto com o mundo real nunca se perde.
Nuno Folhadela nota que ainda há muita confusão no grande público sobre o que é a realidade aumentada e há uma tendência para a associar a realidade virtual. A realidade aumentada (AR) permite, através de óculos de realidade aumentada, ver objetos virtuais no mundo real. O contacto com o mundo real nunca se perde e, para Nuno Folhadela, esse é um dos aspetos mais interessantes. A realidade virtual (VR), por outro lado, também através de óculos específicos, transforma por completo o ambiente em que o utilizador está inserido, através de imagens em 360º.
Realidade aumentada estimula a interação
Os óculos de realidade aumentada permitem ao utilizador ver sempre o que está à sua frente, no mundo real, e estimulam a interação com ele e com as outras pessoas. Nuno Folhadela recorda uma apresentação que a ONTOP fez no Qatar, com várias pessoas no mesmo jogo. “Tínhamos famílias inteiras a jogar, a fugir de uma feiticeira. Ela reconhece e ataca o jogador mais fraco e foi muito giro ver todos os outros a irem protegê-lo.”
Nuno Folhadela acredita que num futuro muito próximo “poderemos interagir com elementos reais e com hologramas”
O exemplo mais recordado por Nuno é o do Pokémon Go. O jogador vê no smartphone personagens virtuais inseridas na realidade e pode ‘apanhá-las’, mas isso não altera os pokémons ou a narrativa do jogo. As personagens continuam no mesmo sítio, para serem ‘recolhidas’ por outros jogadores. Com 5G, a interação pode ser maior e abranger mais pessoas.
Salões de jogos AR são aposta da ONTOP
Há outros conteúdos semelhantes a este para smartphone, avalia Nuno Folhadela, mas quando os óculos estiverem mais acessíveis, a experiência muda totalmente.
Até estes dispositivos poderem chegar às mãos de todos, a ONTOP tem o objetivo de criar espaços onde se podem jogar os seus jogos de realidade aumentada em grupo. Tal como nos mais tradicionais salões de jogos. “Teremos arenas espalhadas por todo o país onde vais poder jogar arcade sports. Vamos tornar o hardware, que ainda não está em casa, próximo do consumidor”, resume Nuno Folhadela.
Aqui entra também um desenvolvimento da tecnologia que se espera para 2022: os jogos AR multiplayer. “Por exemplo, somos duas pessoas no Terreiro do Paço a jogar, vemos uma arca do tesouro e eu vejo que a outra pessoa apanhou uma moeda”, exemplifica o CEO da ONTOP. Neste momento só dá para quatro jogadores, mas graças às características de velocidade e latência do 5G torna-se possível ter 10 pessoas a jogar e interagir.
5G abre a porta ao streaming 3D
O aumento da capacidade de enviar dados também possibilita a transmissão de streaming 3D, antecipa Nuno Folhadela. Pode não acontecer já em 2022, mas o caminho está traçado. “Imaginemos que estamos a ver um jogo com o Cristiano Ronaldo. Com o streaming 3D [e os óculos de AR] podemos vê-lo em cima da mesa [numa escala mais pequena], ou em tamanho real. Podemos estar com ele a viver a experiência e a aprender com ele”, diz Nuno.
Com 5G, ver jogos, filmes ou trabalhar em realidade aumentada pode estar ao virar da esquina. Nuno acredita que, quando pudermos ter tudo em 3D e em tamanho real, os ecrãs vão ser ultrapassados. “Como na música dos The Buggles, que dizia que o vídeo matou a rádio, vai acontecer exatamente o mesmo com o streaming 3D e os ecrãs”, compara Nuno Folhadela.
Há muito trabalho por fazer: não só no desenvolvimento de conteúdos para óculos e outro hardware, mas também mostrar ao grande público as potencialidades da realidade aumentada. “Até 2025, muito do nosso trabalho é educar”, diz Nuno Folhadela, que aponta para esse ano a expansão dos óculos AR no mercado. Com a chegada do 5G, esse caminho começa agora: “2022 vai ser um preview do que será o futuro.”