São 10h em ponto e no Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, o Cardiologista Nuno Santos começa a ablação de uma taquicardia supraventricular. Como habitual, o técnico Ricardo está atento aos vários monitores que registam os sinais do paciente. E de olhos postos na mesa de operações ou nos ecrãs está Pedro Adragão, Especialista em eletrofisiologia que dá apoio à intervenção. Mas Pedro Adragão não está no hospital, nem sequer na Madeira. O também Coordenador do Centro do Ritmo Cardíaco do Hospital da Luz está a 1.000 km, em Lisboa, a participar no procedimento através de uma ligação 5G da NOS. Recebe imagem e som de alta definição em tempo real, num computador, a partir de óculos de realidade aumentada usados pelos colegas.
O sistema Medical Assistance resulta de uma parceria entre o Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM), a NOS - responsável pela instalação da rede 5G no Hospital Dr. Nélio Mendonça, o primeiro da região com a tecnologia -, e a Johnson & Johnson MedTech, que disponibiliza a plataforma digital de assistência remota. Além do software que ajuda o médico à distância a ter o olhar dentro da sala de consultas ou bloco, basta um par de óculos de realidade aumentada, conectados através de 5G.
5G garante uma ligação constante em tempo real
“O tratamento que nós fizemos foi em tudo igual ao que fazemos com todas as pessoas na sala”, explica o Eletrofisiologista Pedro Adragão. O apoio de vídeo à distância já era possível, mas “normalmente isso tem um atraso na transmissão”, que poderia pôr em causa a “segurança do procedimento”. Segundo o especialista, “esta tecnologia mostrou que não existe atraso. O que estamos a ver, cá e lá, e o que estamos a ouvir, está a coincidir”. Na intervenção que acompanhou, Pedro Adragão focou-se nos monitores, mas antecipa que no futuro se poderá escolher entre várias câmaras “a orientar para os pontos específicos que levam a fazer uma interpretação”.
O 5G trouxe a capacidade de sabermos que estamos a ser ouvidos naquele momento. Esta tecnologia mostrou que não existe atraso.
Na Madeira, totalmente concentrado na intervenção ao doente, Nuno Santos considerou o equipamento “muito simples de usar”, sendo uma mais valia para os cuidados médicos na ilha. “Para nós, que temos défice de recursos humanos para poder fazer este tipo de intervenções, é útil ter alguém à distância que nos dê algum apoio”, reforçou o cardiologista. Antecipa que sistemas como o Medical Assistance vão permitir “interagir com equipas até de nível internacional”, particularmente nos casos mais difíceis.
Carla Carvalho, Coordenadora de Informática do SESARAM, afirma que esta iniciativa traz uma “melhoria muito significativa na assistência clínica”. Reforça que o ambiente de cirurgia “exige que a transmissão seja feita sem atrasos, sem interrupções, sem ruídos. Exige uma qualidade muito elevada e é esse o grande benefício do 5G, velocidades de transmissão elevadas e baixa latência”. Já Bruno Magalhães, Administrador de sistemas do SESARAM, lembra os “custos logísticos e operacionais de trazer uma equipa médica de fora”. Com os smart glasses, com ligação ou com recurso a 5G, “faz-se a mesma coisa, de forma mais rápida. Há um circuito de som, um circuito de imagem e é uma maneira de comunicarem”.
Controlo sem mãos para concentrar no doente
Segundo a Johnson & Johnson MedTech, o sistema Medical Assistance inclui uma inovação inédita em Portugal: permite que o especialista remoto controle o zoom, a luminosidade e a qualidade da imagem, mantendo sempre a conversação com a equipa no local. Partilhar a imagem, fazer anotações e enviar ficheiros são outras características, bem como o controlo por voz, para manter as mãos dos médicos livres. A ligação dos óculos AR ao sistema informático, por exemplo, é feita através de um código QR para o qual o médico aponta o olhar.
Esta parceria com a NOS, e a utilização do 5G, põe a tecnologia ao serviço da Saúde.
“É um software que permite ter, em tempo real, acesso remoto a toda a informação necessária para a tomada da decisão clínica”, explica Ana Ayres, General Manager da Johnson & Johnson MedTech. Destaca que “a plataforma dá acesso aos equipamentos existentes numa sala de eletrofisiologia ou bloco operatório”. Para a responsável, “esta parceria com a NOS, e a utilização do 5G, põe a tecnologia ao serviço da Saúde, aproximando o corpo clínico do Hospital da Madeira de líderes de opinião”. Ana Ayres considera ainda que esta tecnologia dá “um contributo para a execução da transição digital na área da Saúde” e também “potencia a formação continuada dos profissionais de saúde e o tratamento diferenciado dos pacientes”.
Vantagens para todo o tipo de áreas médicas, e não só
No Hospital Dr. Nélio Mendonça, agora um hospital conectado por 5G, o Medical Assistance começou pela área de Hemodinâmica. Nuno Santos destaca que a escolha “surgiu naturalmente”, pela necessidade frequente de apoio nesse departamento. “Foi uma das razões para instituir esta tecnologia”, explica o Cardiologista, “para permitir que os madeirenses pudessem usufruir da mesma sem terem de se deslocar para fora da região.
Para Nuno Santos, “saber que há alguém com bastante experiência do outro lado, aumenta a confiança dos doentes”, que já não precisam de sair do conforto da sua área de residência.
Segundo Bruno Magalhães, foi apenas necessário fazer algumas intervenções técnicas, que abrem depois o caminho para um alargamento do programa. “Nós já tínhamos uma rede aqui dentro, nos nossos telemóveis”, detalha, “e a NOS fez uma intervenção para dotar a nossa rede de 5G, que vai estar em todo o lado”. O próximo passo para o Medical Assistance é a formação, avança Carla Carvalho, que pretende “aplicar este projeto num ambiente de treino, no Centro de Simulação Clínica”. A Responsável de Informática do SESARAM espera que “esta tecnologia venha também a ser uma mais valia para formadores e formandos”.
Já Pedro Adragão, que trabalha regularmente com vários laboratórios e centros hospitalares, “a centenas ou milhares de km de distância”, antecipa que sistemas deste tipo têm aplicação em todas as áreas. “Qualquer especialidade pode beneficiar disto, inclusive coisas não médicas”, reforça o especialista do Hospital da Luz, “estamos a falar de medicina, mas isto é perfeitamente possível de utilizar em praticamente todas as áreas do conhecimento”. Na medicina, destaca “cirurgias muito específicas”. Acredita que é possível fazê-las com robótica “e essa robótica pode ser feita por médicos muito experientes, a milhares de km”.
A implementação da rede 5G da NOS no Hospital Dr. Nélio Mendonça, e a inovação da assistência remota, acabam por confirmar as transformações que a quinta geração móvel traz à Saúde, e a sua particular importância para a coesão territorial em Portugal. A iniciativa segue-se também a outras em que a NOS já participou, com destaque para o 1º Hospital 5G, o Hospital da Luz, em Lisboa. Na ilha da Madeira e no continente as capacidades da quinta geração móvel estão a melhorar a vida das pessoas com a NOS.